O relógio em cima da geladeira vermelha que foi moda a algumas décadas. Tic, tic, tôoc. Barulho irritante, qualquer um diria, mas não neste dia sem horas, repleto de orações. "Será frio, será ausência?", pensa, calçando as chinelas de inverno e com a manta de xadrez colorido jogada nas costas, enquanto lê o jornal. TRE, PF, TCU, siglas e cifras na primeira página, e lá fora as nuvens se mostrando como jóias na vitrine, "mas não, ninguém repara nesse dom gratuito, como quisera Quintana um dia", lamenta. Nisso, toma na marra o café requentado, que lhe será o alimento até a metade do dia, ao fim do último gole morde os lábios e fecha os olhos, querendo saber por onde andariam os pensamentos daquela outra pessoa, a uma hora dessas. Tic, tic, tôoc. Aproveitando a carona com esse pensamento, suas idéias se vão no mar que é ser só.