Ir para casa
Descrição de vinte e um minutos e quarenta e oito segundos do meu dia trinta de abril de dois mil e oito;
Como é costume, acabei perdendo o ônibus das dezessete e vinte e sete, que vai direto ao terminal, e o vento cortante que anuncia a chegada do inverno acabou com a minha coragem de ir para casa a pé, então esperei o próximo. Às seis horas e nove minutos ele chegou, lotado, o que é comum neste horário. Lá dentro a conversa não era alta, os olhares estavam cansados. (Todo mundo quer ir para casa, todo mundo precisa ir para casa). E é bom lembrar ainda existem os senhores mais velhos, com suas boinas e casacos de veludos, que mantêm a cordialidade e fazem novas amizades a cada passeio, despedindo-se de todos ao descer. No ponto mais escuro, entrou a mulher dos cabelos intermináveis, que só usa saias. Suponho que ela estivesse com frio.
Lá pelo meio do caminho, só se ouvia os suspiros. Os mais jovens balançando a cabeça ao ritmo das músicas dos mp4, mp5...
Ao meu lado, a mulher dos olhos negros permanecia num silêncio de palavras e gestos, segurando com zelo as suas sacolas. O seu piscar de olhos estava cada vez mais demorado. Em algumas vezes nossos ombros se encostaram, meio sem querer.
E eu queria saber o que todas aquelas cabeças de corpos exaustos estavam pensando. Seria na janta? No feriado de amanhã? No porquê da existência?
Logo os vinte e um minutos e quarenta e oito segundos passaram, e caíram no esquecimento (?).
É, todo mundo vai para casa.
Lá pelo meio do caminho, só se ouvia os suspiros. Os mais jovens balançando a cabeça ao ritmo das músicas dos mp4, mp5...
Ao meu lado, a mulher dos olhos negros permanecia num silêncio de palavras e gestos, segurando com zelo as suas sacolas. O seu piscar de olhos estava cada vez mais demorado. Em algumas vezes nossos ombros se encostaram, meio sem querer.
E eu queria saber o que todas aquelas cabeças de corpos exaustos estavam pensando. Seria na janta? No feriado de amanhã? No porquê da existência?
Logo os vinte e um minutos e quarenta e oito segundos passaram, e caíram no esquecimento (?).
É, todo mundo vai para casa.
Saudades! Tenho-as até do que me não foi nada, por uma angústia de fuga do tempo e uma doença do mistério da vida. Caras que via habitualmente nas minhas ruas habituais - se deixo de vê-las entristeço; e não me foram nada, a não ser o símbolo de toda a vida.
ResponderExcluirO velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida?
Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim - sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um "o que será dele?".
E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer. (BS)