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Mostrando postagens de junho, 2009

senhoras e senhores

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Tirando o fato de ver bicho que sofria (tinha pena dos elefantes), ela sempre gostou de ir ao circo. Parecia que era só entrar no cercadinho que mudava o mundo! Lá dentro não tinha um monte de coisa chata que via todo dia na rua ou na escola. Ao contrário, homens se vestiam de colorido e calçavam sapatos gigantes; os limites eram ignorados; a diversão, o encanto e a novidade eram inevitáveis, irresistíveis. Pensava, enquanto comia pipoca doce, sobre como era a vida de todas aquelas pessoas talentosas, hoje aqui, amanhã acolá, depois de amanhã além, quem sabe? Chegou a desejar ser parte da equipe dos que trabalham em arriscar a sorte, em fazer rir quem precisa de distração, em movimentar as cidadezinhas.  Contudo, imperceptivelmente, foi desistindo de achar graça. Começou a considerar o ingresso muito caro; os palhaços bobos; os trapezistas, fracassados. Inutilmente buscou resquícios daquele sentimento de outrora, mas seu coração criou uma proteção-contra-lembranças-circenses. Deve te

Um coração que não se cansa

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Em baixo de algumas camadas de cobertores ainda era possível constatar que existia um coração, aquecido e cansado, funcionando em ritmo sereno. Embora contra vontade, levantou da cama com sutileza, e foi rumo ao seu ritual matutino. Lavou o rosto com uma água cortante que saía aos gritos da torneira. Uma vez mais, viu sua face refletida no espelho escurecido do banheiro pequeno. Arrumou os cabelos com toda a paciência do mundo, segurando com a boca o grampo preto, enquanto seu pensamento fugia pela fresta na porta. Só por hoje resolveu acreditar e, por isso, colocou seu vestido florido feito de um tecido antigo, daqueles que já não se produz mais. Com elegância, pegou a bolsa branca que ganhara no último aniversário e saiu à rua estufando o peito com ares de paz, rumo à vida, cantarolando sua canção predileta: “meu coração não se cansa de ter esperança de um dia ser tudo o que quer...”

Algum deles vai vingar?

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E diga lá, quantos varais existem espalhados mundo afora? Neles devem estar penduradas roupas coloridas, quiçá velhas, junto a sonhos mal lavados que se sacodem ao fervor do vento gelado, se estendem de lá para cá, mas não alçam voo. Estão presos por grampos beges lascados. Dia desses eu vi o varal duma casinha na beira da estrada, rumo ao sudoeste do universo. Fez sol depois de uns dias intermináveis de céu-nublado-cor-de-saudade. Por isso, as roupas estavam vistosas, eufóricas. Pensei cá comigo, varal é uma coisa engraçada. Seja a pessoa endinheirada ou não, todos têm um parecido, na varanda ou no quintal. Com a mesma função: Segurar roupas. Sonhos. Foto minha.