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Mostrando postagens de setembro, 2010

Lote 20

Quando tudo vai mal, é só sintonizar no canal Terra Viva, bem no horário dos leilões. Um modo estranho de relaxar, alguém dirá. O fato é que é indispensável deixar a TV no mudo, claro, ou o efeito vem ao contrário. O catálogo de cavalos e éguas é bom para começar, eles correm de um lado para o outro, brilhosos, quase livres, em takes de 5 segundos não muito bem editados. Tão bonito. Se for leilão de ovinos, é engraçado: as borregas gorduchas andam devagar até alguém que não aparece no vídeo as espantar, então elas dão uma corridinha leve, simulando interesse, as danadas até bocejam. De bois sinceramente não sou muito fã. [Vez ou outra assusta olhar no lado superior direito da tela: 2+2+20 parcelas de R$380 e sempre aumentando]. O programa funciona como aquela antiga tática de 'contar carneirinhos', logo depois de uns minutos de leilão, o sono chega e me leva a pastos tão-tão distantes.

A figura da praça

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Por mais de sete vezes pensei em conversar com o homem da praça. Sempre algo acontecia e esse pensamento saía do topo da lista das prioridades elencadas na cabeça. Quando lembrava, ele já tinha sumido. Geralmente eu cogitava deixar o papo para o outro dia, afinal, ele sempre estava lá, eu também... Sua chegada acontecia em alguns horários específicos, marcados, e logo o homem aparecia acompanhado de sua magrela-vermelha-modelo-1972.  Chegava, fazia o reconhecimento panorâmico de campo, colocava as mãos na cintura, franzia a testa emborrachada e logo em seguida sentava num dos banquinhos cinzas de concreto. Ali continuava, mirando sem pressa, (cotovelo encostado na pequena mesa quadrangular, mão segurando o peso da cabeça, o peso de tudo) guardando com maestria um punhado dos seus segredos. Mas acabei não mais estando por lá, e, confesso, vez ou outra ainda me pego criando enigmas para a figura da praça. Talvez fora o senhor das marionetes, quem comandava todo o espetáculo vespertino