Nem sempre arco-íris e borboletas

Tudo o que é diferente do que já foi catalogado choca por um tempo, e logo cai no banal, no comum, no natural, no aceitável... Enfim, show é o que atrai. E isso a mídia sabe fazer como ninguém. Há sete dias não se fala em outra coisa: Como a Isabella morreu? E nessa tentativa de informar (será?) não existem barreiras. Num dos piores depoimentos que ouvi, um repórter falou que a menina era cheia de vida, com muitos planos, objetivos... Assim como as outras milhares de crianças da idade dela. Em todas as matérias eles afirmam: “Por enquanto não há nada provado”, mas não economizam na ênfase em certas opiniões, lançam hipóteses para que o público construa a sua tese para o crime. O mistério parece aguçar o público, que se manifesta com todas as emoções à flor da pele...
É claro que um fato desses é aterrorizante, mostra o lado mais vil do ser humano, o lado que fere alguém sem defesa. Lembram daquele outro, o menino João Hélio? Também vítima de homens-monstros, que até então existiam apenas nas histórias em quadrinho. Ou a Susane? Filha matar os pais... Onde estão os limites? E essa agora, de pai matar filha?


Porém, ao refletir sobre isso, surge outra questão: Quantas Isabellas, Marianes, Aninhas, ou seja, quantas menininhas cheias de brilho nos olhos não morrem todos os dias? Vítimas de seus pais, de seus tios, de seus vizinhos, de seu país?
O Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seu primeiro capítulo o Direito à Vida e à Saúde, “mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”. Todas as crianças possuem o direito de se tornarem adultas. Em contrapartida, os dados de uma pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, em 2007, revelam que uma média de 16 mil crianças morrem de fome a cada dia no mundo. Mas isso não aparece durante a semana toda na mídia. Isso incomoda àqueles que pagam uma fortuna nas escolinhas de língua estrangeira, de dança, de futebol, de qualquer-coisa-que-preencha-o-tempo de seu filho único, isso perturba àquele que desperdiça comida no almoço. Isso não é notícia para todo dia, porque é culpa de todo mundo.

Se você fosse acusado de matar uma criança por indiferença, não seria tão cruel quanto esses assassinos?

Comentários

  1. Perfeito Sheyla, adorei!
    A mídia, a mídiocracia é isso aí. Você retratou muito bem... acontece todos os dias nas favelas, mas realmente incomoda quem detém.

    Sensacionalismo, preensão.

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  2. sou mais da opinião de Schwartsman
    http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/helioschwartsman/ult510u392839.shtml

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