João
João tinha um nome comum. Dava em toda esquina, mais que piolho nas cabecinhas de crianças nas periferias desse mundão. Nome de Santo, de trabalhador, de homem digno e pobre. Pobre de dinheiro, mas não de coração, isso ele pensava até então.
Mas não, no fundo ele sabia que não tinha essa dignidade que eles falavam que gente humilde recebia, porque nada parecia importante demais para ele. Entendia que nada tinha importância porque o seu pensamento não passava pelo bem-estar dos outros, geralmente só lembrava de comer e se divertir no bar com o bilhar e o baralho. Com o dinheiro que sobrava comprava uma boa mistura de domingo e um bom vinho. Amava vinhos. Entendia que não merecia viver muito, porque não quis viver para alguém, jamais se casou, vivia só. Só e sozinho. Solitário, somente. Tinha dó das crianças da vizinhança, descalças e ranhentas. Cheias de talento para o esporte, para as novelas, para as Academias, mas destinadas a um futuro que eles consideravam medíocre, rotineiro, sofrido. A base da sociedade estava ali, os que iriam construir os prédios, embalar os hamburgers, separar as verduras, e os que apertariam os parafusos dos carros do ano. Mas não, nunca morariam numa suíte, nunca comeriam fast food entre a aula de ginástica e o teatro, nunca seriam donos do automóvel 0km.
João via todas essas coisas e antes até acreditava que tudo tinha um jeito. Mas com o tempo foi perdendo a fé, como os velhos perdem os cabelos. Dia a dia, hora a hora. Notícia a notícia... Após alguns anos ele só queria mesmo era tomar seu bom vinho tinto suave da marca barata assistindo a televisão que chiava na hora do gol. Incrível, porque era exatamente no momento do gol.
Mas não, no fundo ele sabia que não tinha essa dignidade que eles falavam que gente humilde recebia, porque nada parecia importante demais para ele. Entendia que nada tinha importância porque o seu pensamento não passava pelo bem-estar dos outros, geralmente só lembrava de comer e se divertir no bar com o bilhar e o baralho. Com o dinheiro que sobrava comprava uma boa mistura de domingo e um bom vinho. Amava vinhos. Entendia que não merecia viver muito, porque não quis viver para alguém, jamais se casou, vivia só. Só e sozinho. Solitário, somente. Tinha dó das crianças da vizinhança, descalças e ranhentas. Cheias de talento para o esporte, para as novelas, para as Academias, mas destinadas a um futuro que eles consideravam medíocre, rotineiro, sofrido. A base da sociedade estava ali, os que iriam construir os prédios, embalar os hamburgers, separar as verduras, e os que apertariam os parafusos dos carros do ano. Mas não, nunca morariam numa suíte, nunca comeriam fast food entre a aula de ginástica e o teatro, nunca seriam donos do automóvel 0km.
João via todas essas coisas e antes até acreditava que tudo tinha um jeito. Mas com o tempo foi perdendo a fé, como os velhos perdem os cabelos. Dia a dia, hora a hora. Notícia a notícia... Após alguns anos ele só queria mesmo era tomar seu bom vinho tinto suave da marca barata assistindo a televisão que chiava na hora do gol. Incrível, porque era exatamente no momento do gol.
"Nunca fomos tão livres como sob a ocupação alemã. Tínhamos perdido todos os direitos e, antes de todos os outros, o direito de falar; insultavam-nos na cara todos os dias e tínhamos de ficar calados; deportavam-nos em massa, como judeus, como prisioneiros políticos; em toda a parte, nas paredes, nos jornais, nos cinemas, reencontrávamos o imundo e desenxabido rosto que os opressores nos apresentavam de nós mesmos; por tudo isso, éramos livres.
ResponderExcluirDado que o veneno nazi se infiltrava até no nosso pensamento, cada pensamento era uma conquista; dado que uma política prepotente procurava reduzir-nos ao silêncio, cada palavra se tornava preciosa como uma declaração de princípio; dado que éramos perseguidos, cada um dos nossos gestos tinha o peso dum compromisso.
As circunstâncias tantas vezes atrozes do nosso combate punham-nos a viver, sem fingimento nem véus nem véus, a situação atormentada, insuportável, a que se chama condição humana. O exílio, o cativeiro e principalmente a morte, que é habilmente disfarçada nas épocas felizes, tornavam-se os objetos perpétuos das nossas preocupações, aprendíamos que não são acidentes inevitáveis, nem mesmo ameaças constantes, mas exteriores: era preciso ver nisso o nosso quinhão, o nosso destino, a origem profunda da nossa realidade de homens; em cada segundo vivíamos plenamente o sentido da pequenina frase banal: "todos os homens são mortais".
E a escolha, que cada um de nós fazia de si próprio, era autêntica, pois era em presença da morte, pois teria sempre podido exprimir-se sob a forma "Antes a morte do que...." E não me refiro aqui a essa elite que foram os verdadeiros resistentes mas a todos os franceses que, em todas as horas do dia e da noite, durante quatro anos, disseram não.
A própria crueldade do inimigo levava-nos até extremos da nossa condição, obrigando-nos a fazer a nós próprios perguntas que são iludidas em tempos de paz: aqueles de nós - e que francês não esteve uma vez ou outra neste caso? - que conheciam alguns pormenores relativos à Resistência interrogavam-se angustiosamente: "Se me torturarem, agüentarei?".
Assim se punha o próprio problema da liberdade e estávamos à beira do conhecimento mais profundo que o homem pode ter de si próprio.
Porque o segredo dum homem não é o seu complexo de Édipo ou de inferioridade, é o próprio limite da sua liberdade, é o poder da resistência aos suplícios e à morte."
J-P Sartre, Situações III.
Vc tem talento, hehehehe=)
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