Alemão Bock e o comércio da sorte

De todas as atividades que já desenvolveu ao longo dos seus 56 anos, Alberto Ricardo se encontrou na ocupação de cambista lotérico. Fazendo isso, ele anda por aí, interage com pessoas e os dias passam sem dor. Bom humor é algo que lhe apetece.
Conhecido como Alemão Bock – em referência à cerveja preta de origem europeia – se sente bem quando as pessoas são simpáticas com ele nas ruas. Se alguém lhe injuria, logo se abate, mas procura espairecer e não jogar em cima de outra pessoa o rancor.
Alberto vende jogos da mega e da quina, mas na vida já trabalhou como jardineiro, vendedor de picolé, engraxate, guarda de presídio, peão em fazenda e como catador de recicláveis – hoje ainda coleta algumas latinhas para colaborar com a renda familiar.
“O que eu gosto mesmo é de ser cambista lotérico. Eu levo comigo a amizade, a confiança do pessoal, a credibilidade e as piadas. Inclusive, ninguém me deixa em paz nessa parte. Às vezes eu estou trabalhando e me fazem parar para contar uma piada”.
A relação com a atual companheira já dura “uns 15 anos” – Alberto não é muito bom com datas. Com ela a vida é boa, embora enfrentem contratempos. Por mais difíceis que as coisas estejam, ele tenta ser uma companhia fiel em lembrança a épocas passadas, numa troca de gentilezas.
“Essa mulher me ajudou bastante quando eu bebia. Ela percebia que eu não podia sair sozinho, pois perdia as coisas. Então, se eu viesse para o lado esquerdo, ela me puxava para o direito. Se eu cambaleava para o direito, ela me empurrava para o esquerdo. Assim eu não caía”, disse, usando de uma comparação até poética, mesmo sem se dar conta.
Alemão afirma que deixou a vida de embriaguez há uma década. Desde então se apegou mais ao transcendental, e costuma ouvir com atenção as orações dos padres nas rádios. Fora trabalhar, ele não sabe muito bem o que gosta de fazer. “Quando é domingo, prefiro ficar em casa. Só saio para ir à panificadora quando tenho dinheiro para comprar uma carne assada. Se dá uma soneirinha à tarde, eu viajo para Roncador, que é a minha cama [risos]”.
Quando o assunto é a sua história, Alberto fala como quem tenta costurar retalhos desconexos. De muitas coisas ele não tem certeza. Sabe que nasceu em São Paulo, no município de Lavínia, mas desconhece como chegou a Guarapuava, quando foi adotado por uma família local. “Tem duas ou três histórias que eu já ouvi e não sei qual é a verdadeira”.
Ele tem algumas filhas espalhadas pelo mundo, as quais não vê há bastante tempo. Chega a dizer que seu principal sonho é conhecer uma delas, sobre quem tem poucas informações. “Eu queria ir a um programa como a Porta da Esperança do Silvio Santos [que deixou de ser apresentado na década de 90] e encontrá-la”.
O pai que criou Alemão faleceu. Uma irmã também adotiva mora com a mãe em Curitiba. De acordo com ele, a família paga o aluguel da sua casa. “Nós nos damos bem, mas não estamos conversando muito ultimamente”.

E assim vive o Alemão Bock, que não é muito de ganhar, mas que tenta fazer o melhor que é capaz só para viver em paz.


Você utiliza uma tática de venda?
Acho que não, mas uso frases, como “comprar de preto na sexta-feira é bom para tirar o azar”. Algumas pessoas nem jogam na loteria, mas compram o bilhete por causa das minhas piadas. Às vezes dizem: “Negão, pega esse um real para a pinga”. Eu respondo: “para a pinga não. É para o café”.


Foi bom ter decidido parar de beber?
Sim. Eu me arrependo de ter bebido e de ter vendido coisas e gasto o dinheiro em folia. Desde que parei, passei a ter uma vida mais regrada e não descontrolada como era.

Você é feliz?
... Não. Eu vivo como é o modo de viver. Tenho momentos de felicidade, mas eles não duram o tempo todo.

Quem é você?
Ai, ai. Agora você me perguntou uma coisa difícil, mas para tudo tem uma saída. [...] Eu sou um filho de Deus andando por aí. Pronto.

Do que você gosta na vida?
Escutar as orações dos padres Marcelo Rossi e Reginaldo Manzotti.

Do que não gosta?
Não gosto que vizinho me incomode, que se imponha na minha vida.


Publicado originalmente e na íntegra no Diário de Guarapuava, em julho de 2011.

Comentários

  1. Uma pessoa integra e muito divertido eu gostava muito quando ele contava suas historias e piadas não tem quem não conheça o negão kkkkk

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