garapa
Os meninos crescem alheios à nossa vontade, assim como nascem. Olho para eles e suas barrigas salientes, cobertos apenas por suas fraldas enroladas em sacos de arroz, pulando descalços no chão de terra rachada, rolando pelo piso e falando palavras que não sei onde aprendem. Sinto que logo eles vão entender que eu fiz o que pude. Hoje nós almoçamos, então não tem janta. É que não dá pra comprar de um tudo com cinquenta real. Aqui anoitece cedo e amanhece doído. Uma dor que se alojou e não sei mais onde mora, dizem que é fome, mas acho que é castigo. Já pedi a tudo que é santo que me mande um sinal, se for pra gente sofrer, que pelo menos poupem os meninos. A cada dia uma nova mancha branca nascendo nas suas peles encardidas e o leite não digo que tem todo dia, porque ta caro, mas a gente põe uma açúcar na água, mexemos e daí eles bebem.
Texto meu, baseado no documentário Garapa, de José Padilha.
Foto: Print Screen do documentário.
Texto meu, baseado no documentário Garapa, de José Padilha.
Foto: Print Screen do documentário.
Sinto sua falta :(
ResponderExcluirPor mais que não pareça...
Scheyla, seus textos têm uma delicadeza que encanta!
ResponderExcluirEles me fazem pensar sobre muitas coisas. Gosto demais.
ResponderExcluirAmanhece doído...
ResponderExcluirNunca mais reclamarei ao amanhecer.
Ao mesmo tempo que me fez mal, seu texto me fez tão bem...
ResponderExcluirAcho muito incrível sua capacidade de dar vida ao texto.
=)