Pensamento derradeiro

Neste instante tem um moço de olhos escuros na praça de pedágio, desejando boa viagem a quem quer que seja. Ansiando que o relógio seja generoso e encerre o expediente o quanto antes. Por ele acabou de passar um caminhoneiro calvo, rumo a um destino incerto, mas distante. Chegará a um restaurante onde uma mulher de mãos delicadas lhe servirá um prato quente de sopa de legumes. Prato que será lavado por outra garota, ainda sonhadora, na cozinha dos fundos. Esta tem esperanças que estão além-do-vale, já a outra nem lembra qual é o dia da semana. Um pouco longe dali, um menino de camiseta pólo listrada e bochechas rosadas brinca num pneu abandonado que encontrou. Ele imagina como era o primeiro dono desse brinquedo. Enquanto isso, na calçada, vão e voltam outros elementos sociais em construção, paredes sem tetos, assim como a casa que abriga o pneu amarrado na corda, o menino risonho, o fio que dá sentido ao universo. Pense.

Foto minha. Blumenau-SC.

Comentários

  1. Engraçado. Também lembrei de filme agora: "Crash" do Paul Haggis. Fantástico, tanto quanto seu texto.

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  2. Senti falta dos seus retalhos intermináveis e vim dar uma passadinha..isso pra não perder a mania.


    =*

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  3. Ler seus retalhos transformam o dia-a-dia em um momento mágico!;)

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  4. Adoro ler textos - e/ou retalhos - cotidianos.
    Muito bem feitos, por sinal.
    Dois anos atrás, fiz uma pauta 'cotidiana' na feira do livro de Porto Alegre, se tiveres tempo pra ler, eis o link: http://telhadotiago.wordpress.com/2007/11/11/a-praca-como-ela-e

    =)

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  5. Olha, eu lembrei de Babel, mas Crash tb me lembra Babel... acho que concordo com o Citadella... ;)

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