Sobre os dias de hoje, ou não.

Vazio, agudo.
Ando meio
cheio de tudo”.
Paulo
Leminski

CON
SUMINDO

Tudo o que sólido desmancha no ar. Tudo o que é novo envelhece antes de se desenvolver... A cada dia surge uma novidade. As atitudes são tomadas com paixão, mas a compaixão não mais existe. Este é o clima da pós-modernidade: uma busca incessante por achar-se finalmente, um esvaziamento de sentido e sentimentos. Ao mesmo tempo em que todos têm acesso à informação, o real conhecimento se perde, evapora. O não-aprofundamento dos assuntos gera a superficialidade nos discursos.
Estar na pós-modernidade é uma experiência dicotômica, regada a altos e baixos. O indivíduo tem experiências únicas, fantásticas, tecnológicas. Mas também vê os seus valores – se é que os têm – perdendo a validade, mudando junto com as últimas tendências da moda. Assim sendo, nada sacia o desejo ofegante de querer mais e mais, não importa o quanto isto doa. Aos poucos se constata que não só as roupas e acessórios são comercializados, mas também as idéias e corações.
Neste turbilhão de emoções, os meios de comunicação produzem notícias enlatadas, feitas da mesma forma para todos. A "massa" é tratada como um mero objeto. As diferenças de cultura, idade, sexo e bagagem cultural/intelectual são desprezadas. O que importa é seduzir, animar, prender a atenção. Temas importantes são trocados por entretenimento. Debates pertinentes acabam escondidos, colocados em horários inadequados, substituídos por novelas ou reality shows nada reais. Segundo Marshal Berman, no livro Tudo o que é sólido desmancha no ar, os sistemas de comunicação de massa são dinâmicos em seu desenvolvimento e embrulham, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos da sociedade, e estes estão à beira de um abismo: tudo é absurdo, mas nada é chocante, porque todos se acostumam a tudo. De tanto ver as mortes por bala perdida na televisão, a população já considera que a vida nas grandes cidades é assim mesmo...Não há o que se fazer.

Vazio intenso, imenso
Enquanto vivem diariamente de forma igual, os homens e mulheres pós-modernos já nem sentem. Eles buscam em diversos lugares algo que preencha um vazio e se frustram ao perceber que certas necessidades não são sanadas pelos produtos vendidos nos shoppings ou na TV.
Para ilustrar esta realidade, imagine uma mulher vendo a propaganda de um “AB Shaper” qualquer, que promete torna-la aquilo que ela sempre quis em 15 minutos diários. Depois de adquirir o produto, a moça segue as instruções, mas logo se cansa (talvez 15 minutos seja muito tempo). Na outra semana já existe um lançamento melhor. Novamente ela se engana. Depois de muitas investidas, esta mulher descobre que há certas carências que um simples aparelho não consegue melhorar... Mas milhares de pessoas não têm esta percepção e gastam a vida nesta busca por algo a mais. Procuram um recheio para os seus interiores.

Enfim, o fim
Como se livrar das grades desta prisão na qual estão todos? Há uma luz no fim deste túnel? Para que lugar caminha a humanidade? As respostas para estas perguntas são difíceis – não de serem proferidas, mas efetivadas. Num mundo onde todos estão reificados, admitir erros e voltar atrás é raro. Mais fácil é continuar assistindo de camarote o desastre da vida alheia, sem participações especiais... Belo será o dia em que cada homem perceber que o que se faz fala muito mais do que só falar.

Scheyla Horst, em 23/04/2007.

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