Semáforo vermelho para João

Conheci João Maria no mês passado. Quando voltava para casa após o expediente, o semáforo ficou vermelho e ele meio que me ofereceu umas balas de goma. Fiquei com dó dos seus olhos e comprei. Lá se foi um real. Noutro dia, o mesmo sinaleiro quis ser rubro na minha vez. Perguntei: “como vão as vendas?”. Ele, sem jeito, respondeu: “xi, bem fraco”. Tarde dessas resolvi conversar com mais calma e entender o que o levou a comercializar Gomets naquela quadra. Embora já prevendo, constatei que o homem que vende doces tem uma vida amarga. Papo vai, papo vem, combinamos que eu escreveria sobre ele no jornal. João se matriculou há algumas semanas num centro de educação de jovens e adultos, pois quer aprender algo com o objetivo de conseguir um emprego que o trate menos como animal de carga e mais como ser humano. Ontem, bem quando o semáforo fechou, deixei o exemplar com ele, que olhou as páginas rapidamente e guardou a edição na bolsa verde musgo que abriga as caixas de balas. Hoje, no mesmo cruzamento, quis saber sua opinião. João, de 42 anos, falou: “Legal a minha foto lá. Pena eu não saber ler, daí não entendi nada do que você disse de mim”. O semáforo abriu e eu acelerei. Aquelas palavras foram digeridas bem depois do almoço.


Comentários

  1. A carinha para esse seria :D. Mas como a história me deu um aperto dentro do peito e me despertou uma sensação de ingratidão com a vida , vai ter que ser :(

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  2. Por isso que sempre digo q te admiro muito minha amiga!!! q Deus te abençoe sempre!!:*

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  3. Teus textos sempre roubam as palavras dos meus comentários...
    Aí eu penso, penso e acho que nada que poderia caber bem após tuas linhas.
    Apesar da história meio triste, a narrativa é ótima. Além do botão curtir, aqui tinha que ter o botão aplauso. =)

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  4. Difícil comentar...
    Você fez a sua parte e de mais um monte de gente.

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