Ele tem nome
Fazia um bom tempo que eu queria saber. Sempre apressada, passava ao lado do pedinte e seguia tricotando possíveis histórias. O que levou o homem a ficar todo santo dia encostado no mesmo poste, com as mesmas mãos em forma de concha? Para muitos, ele se tornou uma figura quase transparente. Que existe, todos sabem, mas poucos se importam, desde que não atrapalhe o percurso do banco ao carro, da loja à outra loja. Em vez de passar, naquele dia eu parei.
- Qual é o seu nome? – ele não escuta bem, preciso repetir várias vezes.
- Lionardo – responde, com um pouco de dificuldades de dicção.
- Qual é o seu nome? – ele não escuta bem, preciso repetir várias vezes.
- Lionardo – responde, com um pouco de dificuldades de dicção.
- Leonaldo?
- Não, não, igual do “Leandro & Leonardo” – explica e ri.
- Ah tá, Leonardo! Quantos anos você tem?
- 39.
- Há quanto tempo você fica no Centro?
- Uns 20 anos.
- Vem todo dia?
- Sim, de segunda a sexta. Ficar em casa não adianta, não ganho nada, só fico ouvindo rádio. Dia de sábado fico lá em baixo – aponta para outra rua.
- E se chove?
- Fico ali – aponta para o toldo.
- Ficar parado com este sol na cabeça não cansa?
- Na sombra passo frio. Melhor o sol.
- Vai embora à noite?
- Perto das seis, sete. Vou ao terminal e o ônibus tem um negócio que desce e eu consigo subir.
- Você não anda desde criança?
- Foi acidente. Caminhão bateu em mim, eu tava trabalhando.
- Não te incomoda pedir dinheiro para as pessoas?
- Já acostumei. Elas me ajudam, têm dó de mim.
- Quanto você ganha por dia?
- Nem sei, minha tia é quem conta. Não sei contar e não sei escrever. Sei que uma moeda só pode ser pouco, aí se alguém me dá eu pergunto se não tem mais nenhuma.
- Não, não, igual do “Leandro & Leonardo” – explica e ri.
- Ah tá, Leonardo! Quantos anos você tem?
- 39.
- Há quanto tempo você fica no Centro?
- Uns 20 anos.
- Vem todo dia?
- Sim, de segunda a sexta. Ficar em casa não adianta, não ganho nada, só fico ouvindo rádio. Dia de sábado fico lá em baixo – aponta para outra rua.
- E se chove?
- Fico ali – aponta para o toldo.
- Ficar parado com este sol na cabeça não cansa?
- Na sombra passo frio. Melhor o sol.
- Vai embora à noite?
- Perto das seis, sete. Vou ao terminal e o ônibus tem um negócio que desce e eu consigo subir.
- Você não anda desde criança?
- Foi acidente. Caminhão bateu em mim, eu tava trabalhando.
- Não te incomoda pedir dinheiro para as pessoas?
- Já acostumei. Elas me ajudam, têm dó de mim.
- Quanto você ganha por dia?
- Nem sei, minha tia é quem conta. Não sei contar e não sei escrever. Sei que uma moeda só pode ser pouco, aí se alguém me dá eu pergunto se não tem mais nenhuma.
Taí, você fez uma coisa que eu sempre quis fazer!
ResponderExcluirScheyla, você fez matéria sobre ele para o Diário?
ResponderExcluirSinto vergonha em dizer que depois de um tempo ele se tornou meio transparente pra mim. Parabéns, sheyla!
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