Sonhos de fim de tarde - parte I

Ele vive ali há algumas horas. Ao todo acha que dá uns trinta anos, contando desde quando tinha quase sessenta. Os seus dias vão embora correndo ou rastejando, um atrás do outro, sempre assim. Mesmo quando parece que não passam, no fundo ele sabe que não tem mais volta. Quando chega visita, logo o homem pergunta: "Você me ajuda a achar uma noiva? Mas precisa ser gente séria, porque aí eu posso sair daqui e fazer minha vida". Esse é o seu sonho mais recente. Desde quando ficou viúvo, passou a morar no S.O.S., em Guarapuava. A instituição ampara as pessoas que, inesperadamente, passam a não ter um lar (ou a não caber no que lhes pertencia), geralmente aquelas que estão nas últimas das infâncias e já não desejam muito além da não-solidão. Agora, enquanto escrevo este texto, o que será que ele está fazendo? Talvez imaginando vidas, de olhos abertos, enquanto mantém o olhar fixo na suave dança das folhas com o vento. Deve perceber que é domingo exatamente pelo sorriso das árvores. Ou então está conversando com algum colega de morada. A conversa, aliás, é o que dá fôlego.


Comentários

  1. Scheylinha, fiz um trabalho no SOS... é realmente de partir o coração...
    Amei a sensibilidade do seu texto, encantador.
    Beijoo

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  2. saudades!!!:* quero ler seus textinho sempre!!

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