solidão

Parece que ele passou dias esperando eu chegar, para começar a contar os causos que estavam presos na garganta. Olhei em sua direção e disse: "Boa tarde!". Ele sorriu, espontaneamente, já sem muitos dos dentes. Sentei um pouco, para perguntar se aquele senhor sabia alguma coisa sobre a Capela do Degolado. Seu Alcindo disse algumas palavras sobre isso, e sem incentivos, começou a me falar sobre sua vida. Foram muitos relatos, nos quais ele exigia a minha concordância perguntando a todo momento: "né?". Depois de dois segundos de silêncio e olhar perdido, ele falou: "Já tá para doze anos já, que minha esposa faleceu. Desde então a minha casa é uma solidão. Eu moro ali, mas é como se eu vivesse em baixo daquela ponte, de tanta falta que ela me faz".
Tive que me despedir, já escurecia. Ele permaneceu sentado ali, a olhar as mesmas escadas que mira todos os dias. Talvez à espera de alguém, que não vai voltar.


Foto minha, numa tarde qualquer, em Guarapuava.
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