Cuidado

Eu e João fomos feitos para desentender. Por isso nossa relação alterna do afeto extremo à discordância imediata com a mesma facilidade que ele tem para quebrar coisas. Mas, se é domingo, e o céu está claro, estendo o antigo lençol azul com flores amarelas na grama, e tudo se ajeita. Os únicos sons disponíveis são o do vento por entre as folhagens do quintal e o da voz dele cantarolando músicas de composição própria. Não falamos nada um com o outro, só que ele me olha nos olhos e sorri, desatando os nós. Quando levanto e coloco-me num caminho qualquer perto da escada, ele me adverte com as mesmas palavras que usei horas antes: “cuidado, tia Schelya, é peligoso”. 

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