A figura da praça

Por mais de sete vezes pensei em conversar com o homem da praça. Sempre algo acontecia e esse pensamento saía do topo da lista das prioridades elencadas na cabeça. Quando lembrava, ele já tinha sumido. Geralmente eu cogitava deixar o papo para o outro dia, afinal, ele sempre estava lá, eu também... Sua chegada acontecia em alguns horários específicos, marcados, e logo o homem aparecia acompanhado de sua magrela-vermelha-modelo-1972. 
Chegava, fazia o reconhecimento panorâmico de campo, colocava as mãos na cintura, franzia a testa emborrachada e logo em seguida sentava num dos banquinhos cinzas de concreto. Ali continuava, mirando sem pressa, (cotovelo encostado na pequena mesa quadrangular, mão segurando o peso da cabeça, o peso de tudo) guardando com maestria um punhado dos seus segredos. Mas acabei não mais estando por lá, e, confesso, vez ou outra ainda me pego criando enigmas para a figura da praça. Talvez fora o senhor das marionetes, quem comandava todo o espetáculo vespertino de seus bonecos disciplinados para todo dia viverem assim ou de outro modo. Ou então apenas visitasse os Correios diariamente, à espera de uma correspondência que não veio.



Comentários

  1. Eu também já vi uma figura enigmática tal como você descreveu! Mas nunca pensei que pudesse ser um "senhor das marionetes"! Muito bom!

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  2. Quem será essa figura da praça e sua magrela-vermelha-modelo-1972?
    Muito bom, Scheyla.

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  3. É melhor voltar a frequentar a praça, mesmo que seja só pra observar.
    Lindo lindo.

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  4. A figura da praça... dormiu na praça pensando nela? Seria mais uma figura carente?

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  5. Diante do que se vê hoje, ler um percepção como essa é no mínimo animador.

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