Memórias quiçá-fictícias

Dávamos voltas intermináveis de bicicleta naquela esquina de pedras soltas. 
O momento ousado era o de descer até a rua do bar da Glória sem derrapar e/ou cair. 
Sempre um frio na barriga diferente. 
Às vezes, íamos ainda mais longe, chegando perto da rodovia. 
De lá, contávamos quantos carros de cada cor passavam. 
Vinte anos depois, procurei no Google Maps a rua onde vivi minha infância. 
Agora, as pedras não estão mais soltas. 
E já não reconheço muitas das casas, 
inclusive aquela em que morei.

***

Eu me lembro de uma vez em que fui ao 
parque de diversões escondida na caçamba da caminhonete do vizinho. 
Éramos crianças, deitamos amontoados e fomos cobertos, em silêncio, 
para que não houvesse problemas com a polícia, claro. 
Não sei se se foi o entusiasmo de estar contrariando as regras da sociedade, 
ou ainda a emoção que se seguiria nos brinquedos radicais. 
Mas vez ou outra ainda ouço risos e é como se abrisse os 
olhos naquela escuridão-de-não-saber-onde-estávamos.

**

Quando pré-adolescente eu precisava ir ao colégio de ônibus escolar, 
pois morava longe, o percurso era perigoso e meu pai estava sempre viajando. 
O tio Kaio e a tia Kelly eram os responsáveis pelo translado. 
Todavia, o coletivo não era da melhor qualidade e 
estragava com uma frequência um pouco maior que a média. 
Recordo que uma vez o ônibus pifou no meio de lugar nenhum. 
E aí eles ligaram para amigos que foram socorrer os alunos 
com seus próprios carros, também antigos. 
Quando cheguei à escola-de-freiras-criteriosas, 
por estar atrasada, 
precisei varrer a quadra esportiva.


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