Ela sorriu para mim
Hoje a tarde uma senhora de cabelos de vovó sorriu para mim. Ela estava me observando, eu percebi. Quando retribui o olhar, senti nela algo de nostálgico, algo de reminiscente e bonito. Aquela mulher deve ter voltado alguns anos nas suas lembranças, talvez tenha trazido à memória a sua juventude, o tempo em que ela também andava pelo mundo sem desconfianças ou comprometimentos. Num simples mover de lábios, deixando transparecer os dentes, senti o peso quase leve dessa peça que nos arma o tempo. Sempre ele. Após passar por mim, fiquei com a cegueira causada pelo reflexo do sol nos seus óculos, um momento apenas, e logo ela sumiu por entre as ruas com calçadas enfeitadas por flores rosa caídas dos pessegueiros. Segui observando as casas, certa de que cada casa é um reino. Às vezes, quase sempre em dias de nuvens branquinhas, dá para ver atrás das janelas entreabertas. Fotografias de família colocadas na estante, ao lado da televisão; pequenos enfeites empoeirados, todos têm. Outras vezes...