Durante a via casa-trabalho.
Para não variar, a manhã estava nublada. Na descida da Rua Marechal Deodoro, em baixo de um boné promocional, Seu Antonio mostrou os dentes com avidez, na forma de um sorriso familiar, e logo soltou um "bom dia!", daqueles que quase nos convencem de que realmente tudo vai ser muito bom. Pela sua presença, é certo que se tratava de uma segunda-feira, quando ele passa nas redondezas para recolher as sacolinhas de mercado com recicláveis, na frente das residências. Mais abaixo, no cruzamento com a Rua Dona Noca, uma Variant TL 1971, motor 1600, modelo bem-antigo-até-retrô, de cor cinza meio azulado, estava com uma carga de grandes bolas de coloridas de plástico (daquelas que a gente ganha em jogos de parques de diversão) numa rede acoplada no teto. A cena foi inusitada. Já na Praça da Bandeira, uma senhora de poucos quilos carregava uma mochila que parecia pesada, mas a mulher tinha o rosto sereno e estava contente. Logo ouvi o barulho do trem que cruza o vilarejo. Eita!